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terça-feira, 2 de agosto de 2011

A reunião

Era para ser um dia normal, como qualquer outro dia, o serviço estava razoavelmente elevado, porém o dia estava agradável, nem muito calor, nem muito frio, enfim tudo estava seguindo nos conformes até a chegada dela, a assistente social.

Para quem trabalha com entrega expressa entenderá melhor o que estou falando, pois quando o assunto é entrega expressa o tempo nunca é favorável, e o atraso se mostra sempre inevitável, pois parece que esta intrínseco na mente de cada um que ele já esta atrasado antes mesmo de acordar, mas enfim...

Estava lá no local de trabalho, todos realizando suas atividades, já imaginando a hora de seu retorno a unidade e o fim de seu expediente, mas neste dia as coisas tomariam outro rumo, afinal estava lá a assistente social, para uma palestra, e o tema? Drogas, com um foco maior no álcool.

Vamos lá, em uma reunião em local de trabalho, os trabalhadores costumam se dividir de maneira natural e espontânea em grupos, para ser mais específicos em quatro grupos, e são eles: aqueles que se assentam a frente, os que se assentam no meio, a turma do fundão, e aqueles que se recusam se assentar, cada um representa fielmente seu respectivo grupo.

Todos estão trabalhando normalmente, alguns ignoram a noticia de que dentro de poucos minutos se iniciará uma reunião que duraria cerca de uma hora e meia, outros se apressam e procuram deixar tudo pronto para que ao término da reunião possa reiniciar suas atividades com um atraso um pouco menor que os demais, também há aqueles que não se importam com a reunião e aproveitam da situação para tirar um sarro dos demais, esquecendo desta forma seu serviço, o trocando por risos e piadas, sem falar daqueles que ao saber da impossibilidade de escolha que terá de assistir a esta reunião quer queira ou não, simplesmente abaixa a sua cabeça e distribui insultos, achando que tudo conspira para o seu atraso, fidedignamente cada grupo escolhe um local estratégico para se assentar, de forma que este agrade seus interesses.

Iniciada a reunião, os trabalhadores se dirigem a sala, alguns descem as escadas praguejando e xingando tudo e todos, dizendo que tudo não passa de um bla, bla, bla, e lenga  lenga desnecessário e logo procuram fica de pé próximo da porta, com seus braços cruzados e a cara amarrada eis  aqui um dos grupos, na seqüência vêm aqueles que adiantaram seu trabalhos e de maneira disciplinada se assentam a frente, estes são seguidos de perto por aqueles que são amantes de uma boa piada, da gargalhada, estes já descem as escadas como se estivessem indo assistir a uma final de futebol, entre risos e gargalhadas se assentam no fundão, neste instante de maneira sutil, vêm aquele que odeiam se expor, mas são amantes de uma boa conversa paralela, são aqueles que em uma palestra se assemelha ao terrorista, solta um comentário bombástico, na seqüência se camufla, o palestrante fica desconcertado e confuso sem saber quem foi o dito cujo que disse tais palavras.

Todos estão postos em seus devidos lugares, se inicia as apresentações que logo é surpreendida pela turma dos que estão de pé, pois estes soltam os primeiros insultos, sendo complementados pelas piadas e risos da turma do fundão, que logo é interrompido pela galera que esta assentada a frente, porém ao chamar a atenção dos demais recebem o rotulo de “pelego” vindo do grupo que esta sentado no meio da sala.

O chefe intervém e coloca ordem na casa, a palestrante no caso a assistente social recomeça sua fala, o tempo vai passando, alguns se põe a questioná-la, outros a dar sua opinião, pois de acordo com ele mesmo possue uma vasta experiência no assunto e desta forma não pode ficar calado, frente a este debate, também não posso me esquecer daquele que não sabe o assunto que esta sendo tratado, e sem hesitar acha que estão na verdade falando dele, e logo torce o bico e se põe a falar, e se explicar, o que por sua vez acaba sendo alvo da turma do fundão que novamente incendeia a reunião, com novas piadas, seguidas de um novo rotulo bombástico vindo da turma do meio.

O Chefe intervém novamente, tenta explicar o que a pessoa infelizmente não soube dizer e acaba por complicá-la ainda mais, o palestrante tenta disfarçar o riso, abaixa a sua cabeça, a estagiária neste momento surge na cena, muda o slide e todos voltam seus olhos novamente para a tela, o silêncio novamente se instaura na sala, porém o horário já é avançado, o palestrante se vê forçado a resumir e acelerar sua fala, o chefe novamente interrompe, a palestra a transformando num dialogo, um quer terminá-la, outro que passar o ultimo slide para conclusão, a chuva aperta lá fora, o desespero incendeia do lado de dentro, e o trabalho neste momento se mostra, e usa de sua força, afinal ele é o maioral, todos estão lá por causa dele, a reunião é encerrada, e outra é marcada para terminar o assunto que ficou pela metade.

Cada trabalhador agora em seus postos contam seu “prejuízo” afinal ninguém consegue lembrar o assunto tratado, pois suas mentes estão voltadas apenas para o seu trabalho e as condições que esta reunião lhes deixou, o dia segue seu curso, o palestrante vai embora, os trabalhadores mais atrasados do que nunca, saem desesperados para conseguir cumprir seu itinerário, resistindo ao frio e a chuva, o dia chega ao fim, e com ele o trabalho, porém amanhã surgirá um novo dia e o trabalho virá mais forte do que nunca.

"No trabalho alguns fingem ter o poder, outros fingem obedecer, e assim  todos fingem ser feliz". anônimo